sábado, 25 de setembro de 2010

Por um ponto

Cezário não gostava de estudar, fez o primário nas coxas! Repetiu duas vezes no segundo ano do primeiro grau, três vezes no terceiro e duas no quarto.

No segundo grau não foi diferente.

- Filho, você não tirou o diploma novamente este ano!
- É pai, o professor de matemática me deixou por um ponto!
- Então, amanhã mesmo, nós iremos ao colégio verificar as suas provas.

No colégio, o pai do rapaz, participou da reunião de conselho e foi informado que nas matérias de português, matemática, inglês, ciências e outras, com exceção de atividades recreativas, fora mal. Tirou a média 1,5. Por isso, ficou retido na primeira série.

Com muito custo, somente no ano seguinte, Cezário recebeu o diploma e matriculou-se no colegial. Durante os oito anos de curso, não foi diferente.

Cezário deveria ter estudado muito. Ficar um ano abstendo-se de baladas, festas, cinemas, namoro, iversões em geral. Seu objetivo deveria ser, estudar para passar no vestibular. Só deveria sair de casa para o ursinho e do cursinho para casa. Teria que almoçar, jantar, ir ao banheiro sempre com as apostilas na mão.

Passar no vestibular para ingressar na universidade pública, era o sonho dos pais. Nem tanto o dele, senão teria feito tais sacrifícios.

Ia para o cursinho a fim de ver a galera, paquerar as professoras e passear com o grupo de amigos no shopping.

No dia da prova, estava nervosíssimo! Pudera, nem pegou nas apostilas.

Durante a prova, foi um sufoco danado! Na redação, o muito que conseguiu escrever, foi duas linhas de baboseiras.

Depois de uns dias, seu pai fez questão de ir com ele na faculdade para saber o resultado das provas. Mesmo sabendo que fora mal, o rapaz tinha que encenar toda a trajetória de um vestibulando preocupado em entrar na universidade. Afinal, estava sendo pressionado pelos pais.

As listas estavam afixadas no mural. Cezário, com seu pai ao seu lado, correu o dedo sobre os nomes dos candidatos aprovados. Obviamente não viu o dele.

- Será que estou vendo a lista certa? - perguntou para o pai.
- Vamos conferir de novo filho! - respondeu o pai, acreditando num possível erro da lista.

Conferiram a lista várias vezes, até com a ajuda de amigos. Não encontrou seu nome. Foram na secretaria verificar o que houve com a classificação. Cezário foi tão mal nas provas que seu nome não constava nem na lista dos reprovados!

Chegando em casa, teria que dar a notícia à sua mãe, a seus tios e avós que o esperavam ansiosamente, num clima de festa, com direito a balões coloridos.

- E ai filho, qual foi a sua classificação? - perguntou a mãe.
- Vou precisar recorrer, não quiseram me aprovar! Fiquei por um ponto.

Depois de uns três anos tentando e ficando por um ponto, entrou na faculdade.

Do primeiro para o segundo ano, ficou por um ponto por que o professor de economia o perseguia, do segundo para o terceiro, ficou por um ponto porque brigou com o filho do professor de estatística, no segundo ano do curso, teve que trancar a matrícula para casar. Depois de uns três anos continuou os estudos.

Chegou a sua grande oportunidade. Inscreveu-se para o concurso público para concorrer ao cargo de escriturário. Desta vez, ele estudou muito. Fez tudo direitinho.

No dia da prova, acordou cedo, tomou o café, aprontou-se e seguiu para o local do concurso. Pegou o ônibus, o metrô e depois outro ônibus. Mas ele nem estava atrasado e nem adiantado. Estava no tempo contado. Chegando próximo ao local do concurso, puxou a campainha e desceu do ônibus.

O local do concurso era uma Universidade. Procurou pelas imediações mas não viu nenhuma. Ele foi até um bar e perguntou, onde ficava a Universidade Jubileu.

Fora informado que a universidade ficava próxima ao ponto final, que ele havia descido um ponto antes do final.

Cezário correu muito, chegou no local do concurso com um minuto de atraso. Os portões estavam fechados e não foi permitida a entrada dele para prestar o concurso.

O rapaz, chateado, retornou para casa sem fazer a prova, ou melhor, perdeu a prova. Chegando em casa...

- Já acabou a prova filho?- perguntou o pai.
- Viu como foi bom ter estudado? Acabou a prova primeiro que todos!- elogiou a mãe.
- Não fiz a prova! - disse o rapaz desanimado
- Mas, por que? – perguntou o pai.
- Quando cheguei na escola, os portões tinham acabado de fechar, cheguei um minuto atrasado e não deixaram eu entrar.
- Mas você saiu de casa bem cedo! O que aconteceu? - perguntou a mãe.
- Desci do ônibus um ponto antes e tive que andar quase um quilômetro.
- Já sei, você perdeu a prova, por um ponto! – disse o pai.

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